A JUSTIÇA DE ROSEANA
Jhonatan Almada, historiador
O
Tribunal Superior Eleitoral fez o que esperávamos, mudou uma interpretação de
duas décadas para atender ao caso específico da governadora Roseana Sarney no
Maranhão. É meus amigos, o que serviu para cassar Jackson Lago em 2009, não
pode cassar Roseana Sarney em 2013. O primeiro não fez parte das redes de
interesses e laços consanguíneos que sempre protegeram a segunda.
Fico
refletindo sobre o julgamento que faremos daqui a 10 anos sobre as instituições
da República e seus integrantes à luz de suas decisões. Ninguém poderá mais sustentar
que o Judiciário toma decisões com base na lei, se é que alguém ainda afirma
isso. Talvez nos primeiros períodos da graduação em Direito isso continuará
sendo feito. As decisões do Judiciário dependem de suas relações sociais, do
seu patrimônio disponível para mudá-las ou da sua capacidade de ameaçar os
julgadores. Nenhuma decisão de relevo tem vínculo com a ética ou a moral, a
democracia ou a república, nada disso, essas palavras são apenas coisas
levantadas quando nos frustramos com a prática política real.
Lembro
o exemplo bíblico do juiz injusto que não temia nada, mas por insistência da
viúva lhe fez justiça. Fica claro, hoje, não há insistência no mundo que faça o
Judiciário, sobretudo a Justiça Eleitoral, fazer justiça. O julgamento do
mensalão é uma exceção histórica, só foi levado a cabo por insistência do
ministro Joaquim Barbosa e por que os envolvidos não têm vínculos sociais
fortes com a elite tradicional brasileira, pertencem a uma nova classe social
que chegou ao poder com Lula em 2003.
Quem
indica os juízes? Quem são os ministros do Tribunal Superior Eleitoral? Quem
são os juízes do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão? Alguém acredita que
uma instituição composta majoritariamente por indicações do senhor José Sarney
irá cassar o mandato de sua filha, a senhora Roseana Sarney?
Invoco
aqui os exemplos e a inspiração daqueles que partiram e até o final da vida
acreditaram ser possível mudar o Maranhão, mudar o Brasil, por intermédio da
política: Maria Aragão, Jackson Lago, Neiva Moreira, João Francisco dos Santos,
Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Ainda acredito que seu exemplo e inspiração
poderão tocar nos homens e mulheres de boa vontade. Ainda acredito que esses
homens e mulheres se erguerão e pelo voto começarão o processo de mudança,
completarão a transição maranhense.
Cingido neles, não
posso desesperançar, nem desacreditar da política. Entendo plenamente o verso
de Agostinho Neto “no povo buscáramos a força e a razão”. Esse povo não poder
ser uma abstração, mais do nunca, precisa se tornar uma concretude, precisa se
tornar uma força racional. É nosso dever intelectual persistir na luta,
perseverar na trincheira.
Se
essa persistência e perseverança são tachadas como oposição, então somos
felizes por ser oposição. Nesse combate não há ódio, argumento tão utilizado
pelos que se venderam ao senhor Sarney por alguns tostões ou cargos. Nesse combate há
esperança, união e a utopia como motivação da caminhada.
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