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VIVER SÃO LUÍS

Completo 17 anos vivendo em São Luís, cidade que adotei e estabeleci minha família e moradia, bases afetivas e profissionais. A cidade ao longo desses anos tem vivenciado o inchaço, a verticalização e a ausência de Plano Diretor que de fato funcione. A Prefeitura de São Luís e o Governo do Estado tem revitalizado espaços públicos, a exemplo da Praça Deodoro ou criado novos espaços de convivência e entretenimento atrativos como o Parque do Rangedor.

Os espaços públicos são importantes por duas razões, para que as pessoas possam se encontrar e conviver, e por outro, atrair turistas que movimentem nossa economia. A cidade para além do lugar. A cidade são as pessoas, elas a vivificam, são sua maior riqueza, com suas existências e buscas.

Apesar dos grandes investimentos dos últimos anos, investimentos feitos em tempo de crise, prevalece o déficit de serviços públicos que a acompanha desde o século XIX. Além disso, a desigualdade na distribuição desses serviços é patente, a São Luís do Renascença não é a São Luís da Cidade Operária, ali a atenção do poder público é morosa e episódica. É necessário romper a dualidade centro-periferia que fazem o sentido de público e o de ser cidadão se tornarem tênues e frágeis. Não é sem motivo que existem movimentos por moradia e melhorias urbanas.

Devemos reconhecer os ganhos que os novos espaços públicos trazem para a cidade, a tornam mais agradável e moderna. O primeiro desafio é praticar nossa cidadania para preservar esses ganhos e não depredar o patrimônio recuperado. É doloroso ver esse investimento ser brutalizado por aqueles que não tem apreço pelo público. Não basta ocuparmos os espaços, o fundamental é cuidar deles.

Espaços revitalizados dão mais brilho às pessoas e personagens que povoam São Luís ao longo do tempo, criam a singularidade de nossa cidade. O sonho de uma vida plena é sonho de todos nós. Fiquei feliz ao ver as propostas recentes de valorizar e reconhecer tais personagens, ora pelo Jornal O Imparcial, ora pela Câmara de São Luís na comemoração de seus 400 anos de existência institucional.

Os temas que estou abordando foram publicados por mim na imprensa local e em livros nos anos de 2014 a 2017, as ideias no Maranhão demoram a germinar. Recordo que afirmei em relação ao Centro Histórico de São Luís:
O Centro Histórico deveria abrigar um conjunto de livrarias, padarias, cafés, ateliês e oficinas de arte instaladas por intermédio de um programa de subsídios da Prefeitura e do Governo Estadual. O programa cobriria os custos de locação e adaptação dos prédios tombados, transferindo aos empreendedores locais sua utilização. Esses empreendedores pagariam alugueis subsidiados (preços inferiores aos praticados no mercado imobiliário local) com um prazo razoável de carência para o início do pagamento e acesso a outras linhas de financiamento.
Escrevi isso para o prefácio de um livro em 2014. A ideia não é original, isso ocorre em capitais históricas como Paris na França. E tantos anos depois, o Governo do Estado lança programa chamado Nosso Centro, a Prefeitura de São Luís, Iphan e Vale também apresentam pacote de obras e serviços para o Centro Histórico. O conteúdo dos anúncios vai de encontro com as denúncias ali apresentadas, comemoro grandemente que algo seja feita com a urgência e a duração necessários.

Existem dois mundos para além do Centro Histórico, as periferias e a área rural. As duas ainda não mereceram a atenção devida. Não é apenas asfaltar as mesmas ruas ou prover pequenos serviços que se esvaem a cada estação chuvosa, mas integrá-las em planejamento conjunto, avançado e perene. A meu ver esse seria o segundo grande desafio. Devemos reconhecer e elogiar a criação da Agência Metropolitana e da Agência de Mobilidade Urbana pelo Governo do Estado, a Praça da Lagoa, o prolongamento da Litorânea, o programa Travessia, o Expresso Metropolitano, o Cheque Minha Casa, o Rua Digna, o Minha Casa, meu Maranhão, tantos programas e ações.

Se recuarmos no tempo, mergulhando no livro “Coisa Pública: serviços públicos e cidadania” (1988), contribuição de Raimundo Palhano, saberemos que isso ocorre há muito. Na capital, as camadas populares não tem acesso aos serviços públicos, privilégio do consumo privado de sua elite. A água não aplacava a sede, eram águas sórdidas; alguns eram limpos e muitos sujos, o lixo era destinado ao mar (áreas civilizadas) ou aos terrenos vazios e ruas (áreas periféricas); a rua nunca foi o salão nobre do povo, apenas as grandes vias e as da área nobre recebiam melhorias; a cidade era escura, vivia noites de breu; os burros venceram o progresso, só deixaram de puxar os bondes em meados dos anos 1920. Logo depois, os bondes foram substituídos pelos ônibus.

Celebrar os 407 anos de São Luís implica em dois movimentos, agradecer as melhorias realizadas e a perspectiva de se intensificarem, por outro lado, sublinhar os déficits e desigualdades que ainda nos atormentam. Sou otimista, acredito que São Luís ingressará em ciclo virtuoso que durará, nos permitindo viver sua poesia como cantava Bandeira Tribuzi. 

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