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OBAMA NO BRASIL I

Um dos temas mais complexos da educação é o que fazer quando ela não consegue gerar oportunidade e atratividade para todos. O professor Simon Schwartzman esteve no Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IEMA onde ministrou palestra sobre a reforma do ensino médio no âmbito do Seminário de Estudos Avançados. Entre os dados por ele apresentados, chama a atenção os referentes à juventude brasileira e os desafios para as políticas públicas que tenham os jovens como sujeitos prioritários.

A situação de jovens brasileiros de 20 a 24 anos é a seguinte, 73,2% completaram o ensino médio, 27,8% estudam em nível superior (72% no setor privado); 63,8% trabalham e não estudam; 23,5% não trabalham, nem estudam; 13,8% estão desempregados; 5,8% ainda estão no ensino médio e 1,4% estudam no ensino fundamental. Por esses números fica claro que os jovens que não trabalham nem estudam estão em situação de maior vulnerabilidade social.

Maior vulnerabilidade significa que os apelos financeiros e emocionais do tráfico, da violência e do crime poderão preencher os nãos ou a ausência de outras sociabilidades. Eis o ponto central que justifica a oferta de educação profissional e tecnológica acompanhada de bolsas de estágio que estimulem o exercício de atividade produtiva e a posterior absorção pelo mundo do trabalho. Os jovens de 20 a 24 anos são o público-alvo mais relevante para os referidos programas.

Participei do Fórum Cidadão Global organizado pelo Valor Econômico e Santander, cujo convidado principal foi o presidente Barack Obama, seu legado no governo dos Estados Unidos tem sido contrastado e combatido pelo atual presidente Donald Trump. A diferença de estilo e conteúdo da liderança norte-americana cresce de forma gritante quanto mais avança o tempo da gestão Trump.

O presidente Barack Obama em sua palestra no Brasil enfatizou dois públicos em que investiria mais se ainda estivesse no Governo, os quais serão o foco de sua Fundação. As crianças e os jovens, tratando com mais cuidado as meninas e os afrodescendentes. Obama indagou a plateia se em um time de futebol tivéssemos dois programas de treinamento, um muito bom voltado para os jogadores de pele mais clara e outro fraco para os jogadores de pele mais escura, seria possível esse time ganhar a Copa do Mundo? Certamente que não.

O centro é investir em educação e em um sistema de proteção social, considerando que a economia atual e a dos próximos anos não vai mais gerar empregos como antes e o fato do conhecimento se tornar determinante nos arranjos econômicos do futuro. Obama citou o exemplo de como a inteligência artificial e os grandes volumes de dados irão tornar obsoletas funções e profissões hoje existentes.

As mudanças tecnológicas ocorrem em um ritmo mais rápido do que as nossas instituições conseguem absorver. O presidente Obama afirmou que esse fenômeno vem estimulando o conservadorismo econômico em especial nas pessoas não incluídas nos novos arranjos.

Se fosse aconselhar uma nação, Obama sugeriria estabelecer um sistema universal de educação que busca cada criança desde bem cedo, pois a ciência já comprovou que quanto mais cedo isso ocorre maiores as chances de sucesso escolar e inclusão produtiva no futuro. Isso independe do tamanho do país para dar certo, Obama citou o exemplo de Cingapura sem recursos naturais, mas com alto grau de desenvolvimento via educação de excelência.

A universalização do sistema educacional significa oferecer a cada um conforme sua necessidade e especificidade de aprendizagem. Estimular os talentos e dar as condições para a emergência de novas sociabilidades mais inclusivas e comprometidas com a transformação social. O ponto é construir pactos sociais novos que superem a polarização política e a concentração de renda, segundo Obama a economia precisa funcionar bem para todos os países e povos, não apenas para um determinado país ou segmento social.

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