Jhonatan Almada, Secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação
O Brasil possui baixa aprendizagem de língua portuguesa, matemática e ciências, com consequências claras para o atraso do nosso desenvolvimento científico e tecnológico. O Maranhão em particular está em situação mais grave. A ausência de base educacional sólida que acolha os brasileiros do nascimento à idade adulta tem contribuído para nossa fraca capacidade de inovar, empreender e agregar valor ao que nós produzimos enquanto nação. Não existe passe de mágica para resolver problema tão complexo que envolve professores, gestores, currículo, União, Estados e Municípios, setor empresarial, famílias e comunidades.
Iniciativas relevantes tem sido implementadas no Brasil, sobretudo ante a dimensão territorial e impraticável federalismo às avessas que nossa formação social gestou. Cito o trabalho liderado pelo Dr. Miguel Nicolelis no Rio Grande do Norte como exemplo claro de que é possível superar a complexidade do problema por intermédio de uma resposta combinada e articulada. O projeto de Educação para Toda a Vida inicia com a assistência pré-natal das mães, reduzindo significativamente a mortalidade materna e infantil. As crianças assistidas seguem para a creche do projeto e logo depois para a escola em tempo integral cujo fundamento pedagógico relaciona todo o currículo às necessidades e exigências de uma educação científica de qualidade. O cerne é fazer com essas crianças e jovens possam desenvolver todo o potencial e liberar essa energia criativa para melhorar nossa condição humana.
Logo depois dessa etapa, os jovens poderão se inserir nos cursos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado oferecidos no Campus do Cérebro, completando assim um círculo virtuoso no âmbito de sua educação. Vinculado ao Campus existirá um Parque Tecnológico voltado para as necessidades do Sistema Único de Saúde, atraindo empresas que irão transformar o conhecimento em produtos e aplicações. As áreas de neuroengenharia e robótica tem destaque como ferramentas que cumprirão a função essencial da ciência, nas palavras do Galileu Galilei de Bertolt Brecht: "aliviar a canseira da existência humana".
Podemos citar ainda o programa de educação científica do CTI Renato Archer, órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, concebido e liderado por Victor Mammana. A linguagem de programação e robótica se espraia nas escolas durante o fim de semana e as escolas ocupam o CTI em gincanas científicas. O contato com os laboratórios avançados do CTI e o conhecimento acumulado pelos seus pesquisadores possibilita às crianças e jovens alçar voos próprios. Essa experiência marcante conquista jovens cientistas para o mundo da programação computacional.
Em face disso, criamos o Programa Luminar - Caravana da Ciência como iniciativa pioneira de popularização da ciência no Maranhão. Aumentar a exposição e o envolvimento com a ciência é o objetivo principal. Quanto mais as crianças e os jovens participarem de atividades de educação científica maior a probabilidade de gestarmos ali novos Santos Dumont. O Programa consiste de oficinas de robótica, games, astronomia e eletricidade básica, complementadas com o Planetário móvel. Cada oficina não somente teoriza sobre a temática, ela ensina a fazer um robô, a criar um game, a observar os céus e a lidar com a energia elétrica. Coisas práticas e concretas que possam ser levadas por toda vida, semeando e estimulando o despertar de uma vocação científica.
O nome do Programa se inspira no lema "Ouse saber!" do iluminismo. Luminar como caminho que conduz para o saber. A luz são as conquistas que a humanidade realizou por intermédio do avanço científico. Nós temos a responsabilidade pública de superar a privação do conhecimento, herança mais cruel que foi legada à nossa infância e juventude pelos senhores do cutelo e do baraço que ainda há pouco estavam no poder.
Estamos percorrendo 17 municípios com o Programa Luminar - Caravana da Ciência e ao final realizaremos balanço avaliativo para a sociedade. Todos os sábados até o mês de dezembro de 2016 estaremos em algum município do Maranhão. Os depoimentos que temos colhido ao longo dessas últimas edições confirmam o acerto da iniciativa e o ganho de mais convertidos à ciência. Fundamental a parceria da Sociedade de Astronomia do Maranhão, Associação Maranhense de Games e o Grupo do Ensino de Física do IFMA Monte Castelo, liderado pelo Prof. Fábio Henrique Silva Sales.
Não é ciência sem função social. O mundo caminha para a indústria do conhecimento e nós ainda patinamos sem rumo. O principal investimento a ser feito é nas pessoas, provendo as condições de infraestrutura física, tecnológica e laboratorial para que possam ganhar o mundo. Não é ciência isolada. O sucesso de qualquer projeto depende da rede que se estabelece em âmbito local, nacional e global.
A criação e implantação do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia (IEMA) objetiva oferecer educação profissional de nível médio em tempo integral não só para formar técnicos que irão atuar no mercado de trabalho, mas sobretudo formar novas mentalidades que tenham competências e habilidades científicas para levar adiante seus projetos de vida e contribuir para o processo de desenvolvimento do Maranhão pelo qual lutamos.
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