Jhonatan Almada, historiador e quadro técnico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
A propaganda eleitoral em curso
permite-nos algumas constatações em relação aos candidatos ao senado, a deputado
federal e deputado estadual. Destaco os que podem ser considerados quadros
relevantes para a sustentação de um governo que efetivamente materialize uma
mudança na política do Estado do Maranhão.
QUADROS DA MUDANÇA. Quanto ao Senado, sem dúvida que o
candidato identificado com o projeto da oposição é Roberto Rocha, empresário e
político experiente. Sua eleição para esse cargo seria fator dos mais
determinantes para a mudança na relação entre o Governo do Estado e o Governo Federal,
alterando minimamente a atual composição da bancada, cujos outros dois
integrantes são João Alberto e Edison Lobão, a dupla dinâmica que ficará sem o
colega José Sarney a partir de 2015.
No que diz respeito aos candidatos a
deputado federal é importante notar que a saída de alguns da disputa nessas
eleições alterou as possibilidades em jogo. Por exemplo, Carlos Brandão
(vice-governador na chapa do candidato Flávio Dino), Pinto Itamaraty (suplente
de senador na chapa do candidato Roberto Rocha) e Ribamar Alves (prefeito de
Santa Inês). Exceto Nice Lobão, pois ao não candidatar-se, contribui
especificamente para retirar da bancada maranhense a nódoa de possuir a
deputada mais faltosa e inoperante do Congresso Nacional em todo o Brasil.
Entre os que tentam a reeleição,
Domingos Dutra é o nome a se destacar. Dutra é uma referência na luta da
oposição contra os desmandos do grupo dominante. Por muito tempo, voz solitária
que carregou essa bandeira por anos a fio. Presidiu a Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados com atuação reconhecida. Resistiu o quanto pôde
no Partido dos Trabalhadores (PT) para que o mesmo não se aliasse ao grupo
dominante local, chegando a fazer greve de fome. Recentemente, renunciou a uma
candidatura ao Senado em nome do projeto maior de união do campo oposicionista
e se mantém firme no propósito de apoiar o projeto de mudança.
Entre os que se candidatam nestas
eleições para deputado federal, destacam-se Eliziane Gama, Rubens Pereira
Junior, Márcio Jardim, Simplício Araújo, Igor Lago, Deoclides Macedo, José
Reinaldo e Edson Vidigal. Existem outros candidatos vinculados ao projeto
político da oposição, entretanto, conheço melhor esses que destaquei.
Eliziane Gama se tornou uma das mais
jovens deputadas estaduais, foi candidata à prefeita de São Luís e tem uma
forte atuação em prol dos direitos humanos. Renunciou a candidatar-se ao
Governo do Estado em nome do projeto da mudança. A deputada fez a gentileza de
propor a inclusão de artigo de minha autoria nos Anais da Assembleia,
entretanto, como o conteúdo era crítico ao Governo Roseana Sarney, a Mesa
Diretora indeferiu seu requerimento, apesar de seus protestos. Registro esse
fato e o agradecimento público pela sua coragem.
Rubens Pereira Junior foi o principal
deputado de oposição na Assembleia Legislativa, sobretudo pela pertinência e
qualidade de suas intervenções e questionamentos. Em mais de uma oportunidade,
elogiei a atuação de Rubens pela fundamentação de suas falas e pelo estudo
dedicado do orçamento público, coisa rara entre deputados estaduais.
Márcio Jardim é um dos jovens líderes
da oposição no Maranhão, desde a política estudantil. Possui experiência no
âmbito da gestão estadual e municipal com forte articulação política nacional. Quadro
orgânico do PT ainda hoje persevera em ambiente hostil às suas escolhas e
posições, visceralmente vinculado ao campo oposicionista e rigorosamente
contrário à oligarquia.
Simplício Araújo alcançou destaque
considerável em sua atuação na Câmara de Deputados, ao assumir a suplência e
depois ser titularizado na vaga de deputado federal, chegou a Vice-Líder da
Minoria e atualmente é Vice-Líder do Solidariedade (SD). Seus pronunciamentos e
atuação incisiva, posicionando-se contra os escândalos e irregularidades
praticadas pelo grupo dominante do Maranhão, diferenciaram-no sobremaneira.
Recordo que foi um dos únicos políticos a ir pessoalmente ao Instituto Jackson
Lago assinar ficha de contribuição.
Igor Lago é médico com qualificação
acadêmica prestigiosa e arraigados valores democráticos a pautarem sua atuação
política. Entra com mais intensidade na política maranhense pouco depois do
falecimento de seu pai Jackson Lago, líder histórico da oposição maranhense e
ex-governador do Estado, cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral no que passou
à história como “golpe pela via judiciária”. Igor Lago se propõe continuar o
legado de seu pai e tem como principais características a seriedade e o rigor
nas suas assertivas e posições.
Deoclides Macedo foi prefeito de
Porto Franco e realizou uma gestão destacada no município, nacionalmente
reconhecida pelo trabalho e inovação ali presentes. Quadro orgânico do Partido
Democrático Trabalhista (PDT), atualmente uma de suas principais lideranças, sua
experiência na gestão municipal e articulação intermunicipal é seu ponto forte.
José Reinaldo é ex-governador do
Maranhão e político com larga experiência administrativa estadual e nacional,
pagou preço alto por seu rompimento com o grupo dominante local. Sagaz e atento
expõe como ninguém as contradições do Governo Roseana Sarney. O conhecimento de
como esse grupo funciona por dentro lhe valeu o ódio eterno de José Sarney e é
um elemento estratégico de fundamental importância na sua atuação.
Edson Vidigal é Ministro aposentado e
foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Meu conterrâneo de
Caxias, Vidigal tem uma história de vida e carreira consolidadas. Após a
aposentadoria da magistratura retornou ao mundo da política, por onde teve
passagens anteriores, como vereador e deputado federal. Está no campo da
oposição, tendo contribuição relevante nesses Governos.
Entre os que se candidatam para
reeleição como deputado estadual, destaco Bira do Pindaré. Bira é um quadro
político e técnico com competência no campo da formulação de políticas públicas
e articulação social em defesa dos direitos humanos. Tem experiência
administrativa estadual e federal, bem como, atuação decisiva contra o trabalho
escravo no Maranhão aliada a capacidade de mobilização popular.
Joaozinho Ribeiro se candidata para
um primeiro mandato de deputado estadual, sendo quadro político e técnico com
experiência consolidada no campo da cultura, tanto no âmbito estadual, quanto
federal. Cantor, poeta, funcionário público federal, advogado e professor
universitário, Joaozinho tem muito a contribuir na Assembleia Legislativa,
sobretudo na inovação e formulação de políticas culturais, bem como, na
reconstrução das relações entre cultura e educação.
Luiz Pedro é jornalista e conta com
uma carreira profissional e política das mais destacadas. Organicamente
vinculado ao campo da oposição e membro leal dos governos de Jackson Lago. Militante
histórico, com experiência administrativa municipal e estadual, além de dois
mandatos de deputado estadual.
Existem outros nomes da oposição na
disputa por uma vaga de deputado federal na Câmara ou deputado estadual na Assembleia,
poderíamos citar ainda Júlio Pinheiro, Professor Haroldo, Gerson Pinheiro,
Júlio Guterres, Yglésio Moysés, Américo de Sousa, Rose Sales, Pastor Porto, dentre
outros. O fundamental é renovar com nomes claramente vinculados ao projeto de
mudança proposto para o Maranhão.
ELEITORADO MARANHENSE. A principal dificuldade da oposição
em vencer as eleições, renovar as bancadas e construir maioria que assegure a
governabilidade reside no eleitorado maranhense, o qual é constituído por 4,49
milhões de pessoas, conforme as estatísticas eleitorais de 2014, divulgadas
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desse universo, 61% são totalmente
analfabetos (13%) ou analfabetos funcionais (48%), 5% tem ensino fundamental
completo, 27% tem ensino médio incompleto ou completo, 1,65% tem ensino
superior incompleto e somente 2,79% tem ensino superior completo.
Em 2004, dez anos atrás, a realidade
era pior ainda, 75% de 3,7 milhões de eleitores era analfabeto funcional ou
totalmente analfabeto. Desse total, somente 5,3% tinha ensino fundamental
completo, 7% ensino médio completo e 10% ensino médio incompleto, 0,52% ensino
superior incompleto e somente 0,74% possuíam ensino superior completo.
Esses eleitores têm como principal
fonte de informação a TV e o Rádio. Daí uma das principais dificuldades da
oposição em quebrar o ciclo de dominação da oligarquia, pois essa escolaridade
exige um trabalho de educação popular direto e pessoal, única forma de quebrar
a frieza e a força da mídia. Contudo, o trabalho direto pode ser descontruído
muito rapidamente pelo bombardeio diário veiculado por essas mídias.
As fontes de informação mais
acessadas pelos eleitores maranhenses são a TV Mirante, Rádio Mirante e Jornal “O
Estado do Maranhão”, veículos de propriedade da família Sarney que influenciam
fortemente a opinião pública. Isso não é só uma questão de escolaridade,
pessoas com nível superior também deformam a opinião com o que é veiculado pelo
grupo. Não conseguem estabelecer mínima análise crítica da informação, sempre
enviesada e mais pesadamente manipulada quando se trata de ano eleitoral.
O RISCO E A RÉGUA. O risco de derrota retumbante nas
eleições de 2014 fez com que o grupo dominante acionasse essa máquina de moer
reputações implacavelmente. Os partidos PSOL, PSTU, PCO, PCB e PPL funcionam
como coletivos ingênuos e úteis a esse esquema. Ao acreditar que sua teoria da
farinha do mesmo saco contribui para esclarecer o eleitor, contribuem com o fortalecimento
da estratégia do grupo dominante de inviabilizar a alternância do poder. Soa
forçado e confuso o ataque por eles dirigido, ao mesmo tempo, tanto ao
candidato do grupo dominante (Lobão Filho), quanto ao candidato líder da
oposição (Flávio Dino).
O embotamento provocado por essa
teoria e as limitações do eleitorado não conseguem tirá-los do puro
desconhecimento. Isso impede de perceber que a razão do prefeito ou prefeita
ser ruim não é a incapacidade financeira de resolver os problemas da cidade, o
fato dos problemas virem de administrações anteriores, a impossibilidade de
resolvê-los no curto prazo ou de atender todos os interesses que disputam o
orçamento do município, mas o fato desse prefeito ou prefeita não pertencer ao
grupo dominante local. Só isso, nada além.
Nesse contexto, não importa a verdade
ou o fato, mas como ele pode ser transformado em uma versão que apresente o
gestor como incompetente ou corrupto para assim manter a dominação política do
grupo. É nesse terreno que vicejam figuras como a da propaganda de Edison Lobão
enquanto caricatura mais bem acabada desse eleitorado, despertando mais o riso
do que a revolta em relação ao estereótipo.
Também nesse terreno é que as
abstrações sentimentais da consorte-apresentadora do candidato encontram a acolhida
de um eleitor bestificado por décadas ao confundir assistencialismo com
política pública, popularidade com responsabilidade, fanfarra com seriedade e
consistência de propósitos ou dentadura com voto.
Até uma candidata de ventríloquo se
apresenta como a portadora da verdade sobre a saúde no Maranhão a ser por ela desenvolvida,
mais uma que não tem clareza do que de fato faz um deputado. A rigor, a maioria
dos candidatos que se apresentam na disputa para deputado federal ou estadual,
fora o fato de serem a segunda ou terceira geração de filhos de políticos a
representarem nosso estado, não tem a mais vaga ideia do que faz o Poder
Legislativo ou do que farão com seu mandato. O candidato a senador do grupo
dominante, por exemplo, me confunde, pois apesar de sua larga experiência como
quadro político e técnico do grupo, parece que pensa ser candidato a governador
ou que o Senado Federal é o Poder Executivo.
Conheço ruas de São Luís, Caxias, São
José de Ribamar, Santa Inês, Timon, Balsas e outros municípios que estão do
mesmo jeito há mais de 15 anos. Ora, não são problemas que começaram com os
atuais prefeitos e não são problemas que serão resolvidos em 2 ou 4 anos de
gestão. As prefeituras não têm condições financeiras para fazer tudo ou
resolver todos os problemas. Governo algum tem essa condição, somente partidos
que não tem qualquer experiência na gestão da coisa pública ou pessoas sem
passagem pelo Estado, podem adotar o discurso confortável da crítica
reivindicativa sem compromisso com a realidade orçamentária, o jogo de forças,
a governança a se construir e a governabilidade a se manter.
O mais curioso é que a régua dos
Sarney a medir os prefeitos identificados com o projeto da oposição não se
aplica aos seus prefeitos. A cobrança por coerência se perde, vale somente para
os outros. Por exemplo, prefeitos da Baixada Maranhense, do Centro-Sul ou do Litoral
Ocidental, governam anos a fio sob a complacência solícita do grupo dominante,
a blindá-los das operações policiais, da prisão, da celeridade da justiça ou
das irregularidades nas prestações de contas. Lembram muito a relação entre os
Estados Unidos e os ditadores por eles apoiados mundo afora. Ao serem
questionados, respondem tangenciando que apesar de “son of a bitch”, são “our
sons of bitches”.
Chega a ser bisonho, insistir que o
Governo do Estado na gestão de Roseana Sarney é republicano, beneficiando
aliados e adversários. O dinheiro de obras ou melhorias não é repassado para as
Prefeituras, mas para obras previamente definidas e realizadas pelo próprio Governo
do Estado, exemplo claro é o da capital São Luís. Mais bisonho ainda é acreditar
que R$ 2 milhões ou R$ 2 bilhões sejam depositados nas contas das Prefeituras, magicamente,
bastando firmar convênio, os quais estão pacientemente esperando à mesa da Casa
Civil para serem assinados.
Por fim, a propósito da discussão
sobre quadros, recordo de amiga fraterna, a quem respeito intelectualmente, que
me perguntou onde eu iria trabalhar na Prefeitura de São Luís. A pergunta veio
em função do apoio que explicitei a Edivaldo Holanda à época das eleições
municipais, apoio que reitero. A resposta foi a seguinte, o apoio à sua eleição
se deu no contexto de um projeto político maior, programático, nunca foi
baseado na perspectiva de cargo. Esse tipo de barganha eu nunca farei. Não me
submeti a isso nem mesmo quando o Governo Jackson foi derrubado e o grupo
dominante local convidou-me a permanecer. A divergência de ordem ética e
ideológica com a nova gestão de Roseana Sarney tornava impossível e aviltante aceitar
tal convite, o qual foi prontamente recusado.
Pouquíssimos resistiram. A
análise da historiadora Lígia Teixeira, se mostra precisa, boa parte da elite e
da classe aquinhoada local depende dos favores e benesses do grupo Sarney, não
causando qualquer constrangimento os apoiarem por milhões ou migalhas. Para eles vale o adágio dos
políticos mexicanos, “vivir fuera del presupuesto es vivir en el error”. Optaram por assim conservar-se.
É mais fácil do que empreender o próprio negócio na selva capitalista ou passar
em concurso público, pois sempre fica a esperança de empregarem os filhos no
Estado ou elegerem-nos para algum mandato.
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