O
IMPEACHMENT DE ROSEANA SARNEY
Jhonatan Almada, historiador
E lá na
montanha deitado dormido
Campeia o gigante! — nem pode acordar!
Cruzados os braços de ferro fundido,
A fronte nas nuvens, e os pés sobre o mar!...
Campeia o gigante! — nem pode acordar!
Cruzados os braços de ferro fundido,
A fronte nas nuvens, e os pés sobre o mar!...
Porém se
algum dia fortuna inconstante
Puder-nos a crença e a pátria acabar,
Arroja-te às ondas, oh duro gigante,
Inunda estes montes, desloca este mar!
Puder-nos a crença e a pátria acabar,
Arroja-te às ondas, oh duro gigante,
Inunda estes montes, desloca este mar!
Gonçalves
Dias
O Maranhão é o símbolo
da contradição republicana brasileira. Em todo nosso processo histórico, a
imposição e a conciliação foram marcas constitutivas. O quadro atual tem três
marcos originários importantes. O primeiro, a eleição de José Sarney para o
Governo do Estado em 1965. O segundo, a eleição de Roseana Sarney para o
Governo do Estado em 1994. O terceiro, o golpe judiciário de 2009 que derrubou
o Governo Jackson Lago, ferindo de morte o governador e restaurando Sarney no
poder.
A imposição de Sarney
como senhor do cutelo e baraço do Maranhão pelo pacto de poder entre o PMDB e o
PT em meados de 2002 definiu os destinos do Estado. Na verdade, esse pacto
apenas confirmou o Maranhão como domínio de uma família. Lula não hesitou um
instante sequer para imolar Jackson e seu governo e erguer Roseana no altar do
poder que antes perdera.
Governar o Brasil pelo
novo grupo que chegou ao poder com Lula (e sabemos que é um país continental)
teve um preço político e territorial relativamente pequeno: manter a imposição do
domínio e conciliar-se com o antes adversário político. Não faltam provas
concretas e audiovisuais das duas posições de Lula em relação ao Sarney,
facilmente acessíveis no youtube.
A ética republicana do
bem comum e os compromissos de solidariedade com a oposição histórica no
Maranhão foram degolados no presídio da governabilidade e enterrados nas
quintas da Ilha de Curupu. Nenhum dos fatos que ocorreram nos últimos meses,
nenhuma das notícias das últimas semanas, implica ou implicará em uma mudança
nesse pacto.
Até o Tribunal Superior
Eleitoral se curvou recentemente e mudou a jurisprudência para impedir a
cassação de Roseana, remetendo o processo ao Tribunal Regional Eleitoral. É
mais fácil o Governo do Estado construir 10 presídios novos em 60 dias (ou 72
hospitais prometidos para o final de 2010!) do que esse Tribunal cassar o
mandato de Roseana.
O déficit de
inteligência e habilidade, uma característica de Roseana Sarney só agora
conhecida pelo Brasil, não nos pode iludir quanto à luta ferrenha que esse
grupo político irá imprimir para preservar o poder no Maranhão.
Identifico algumas
estratégias que já estão em andamento. A primeira estratégia utilizada é negar
a realidade inventando estradas alumiadas e bairros seguros. A segunda
estratégia é desmerecer o outro, não respondem às evidências concretas,
questionam a veracidade delas. A terceira estratégia é culpar o outro, tudo não
passa de uma grande conspiração dos opositores. A quarta estratégia é tomar a
si como o Maranhão, pasmem, não é um problema de segurança, mas uma campanha sulista
contra o Estado. A quinta estratégia é dizer que está fazendo, sem nada fazer,
recebem visitas de autoridades, posam em reuniões, divulgam que estão recebendo
auxílio de experts e copiando experiências de sucesso. A sexta estratégia é
repetir à exaustão que nós temos motivos para nos orgulhar do novo Maranhão,
onde qualquer obra é tratada como substituta absoluta das políticas públicas.
Tijolo e cimento não resolverão os problemas maranhenses. A sétima estratégia é
o recrutamento de fiéis pregadores para atuarem em sua defesa nas redes
sociais, sobretudo culpando a oposição.
Em toda a cobertura de
mídia das últimas semanas, a qual nunca foi tão oportuna como agora, dois
questionamentos silenciosos pairavam sobre os cadáveres de Pedrinhas e os
camarões do Palácio dos Leões: 1) por
que os maranhenses, eleição após eleição, insistem em colocar os membros do
grupo político liderado por Sarney como governadores, senadores, deputados
federais, deputados estaduais, vereadores e prefeitos? e 2) se o Governo
Roseana Sarney é tão ruim por que os maranhenses nunca exigiram o impeachment
da governadora às portas da Assembleia Legislativa?
Duas questões difíceis,
os maranhenses não são algo homogêneo. Poderia argumentar em relação à primeira,
ainda que de forma simples, que o eleitorado se subdivide em eleitorado
esclarecido e eleitorado manipulável. O eleitorado esclarecido, isto é, ciente
do atraso que a liderança política do grupo de Sarney impõe ao Maranhão é
infinitamente pequeno, incapaz de redirecionar o conjunto dos que votam. O
eleitorado manipulável, isto é, aqueles para os quais independe qual grupo
político governa, desde que possam obter algum benefício imediato na eleição é
infinitamente maior e tem premiado esses políticos com inúmeros mandatos.
A saída seria um
trabalho de convencimento intensivo, casa em casa, pessoa a pessoa, chamando à
razão. Convencer pessoas que vivem na pobreza ou na miséria desconhecendo que
esta, em grande parte, é fruto da forma que um determinado grupo político governa
o Maranhão. Eis o maior desafio do ano de 2014: educar para a política e pela
política. Fazê-los recuperar a crença na sua capacidade de ser mais, como nos
ensinou Paulo Freire.
Quanto à segunda
questão, poderia argumentar que a oposição é minoria na Assembleia, o que mata
no nascedouro muitas iniciativas. Argumento ainda que uma cultura do medo e da
subserviência paralisa as pessoas e as instituições locais, as quais agem mais
por impulso externo que próprio. Nem mesmo as mobilizações de rua do ano
passado transformaram o “Sarney, ladrão, devolve o Maranhão” em um movimento
pelo impeachment da governadora.
Não é vergonhoso para
todos os maranhenses que outros tenham de se indignar por nós e fazer aquilo
nunca tentado pelos que vivem sob uma dominação vitalícia, como afirmado por
Zeca Baleiro. É vergonhoso que toda uma geração vendida, venal e desumana, dia
e noite defendam esse grupo político.
Nosso
dever cívico é apoiar essa iniciativa dos advogados paulistas e ir às portas da
Assembleia Legislativa exigir o impeachment da governadora Roseana Sarney. É
preciso arrojo de gigante!
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