SARNEY ESTÁ PRESO
Jhonatan Almada, historiador
A
Coluna do Sarney tem como única serventia mantê-lo vivo enquanto intelectual de
si mesmo. Os donos de jornais com algum juízo, ainda que tardio, não publicam mais
sua coluna. Entre as motivações, o caráter contraditório do político que
enriqueceu a custa da pobreza do Maranhão, negando o que seu Imposto de Renda em
parte explicita. A qualidade do texto também deve ser mencionada, riquíssima em
lugares comuns, argumentos pedestres, autopiedade, falsa modéstia e forçada
erudição. Apenas o jornal "O Estado do Maranhão" de sua propriedade, o publica.
Formar
uma opinião a partir do que escreve Sarney não é difícil. Essa opinião ser
positiva, elogiosa ou acrítica é praticamente impossível. Salvo se você consta da folha de
pagamento do grupo político que o senador José Sarney lidera. Escolham cinco ou
seis pessoas com o sobrenome Sarney, Murad ou Duailibe, com proximidade do
núcleo familiar, verifiquem suas declarações de bens, seus negócios, os
pagamentos que recebem. Isso é identificável. Aos que não possuem esse
sobrenome, mas guardam proximidade com o núcleo familiar vale a mesma sugestão
de roteiro para investigação patrimonial.
Ainda
que essas evidências materiais sejam visíveis, o próprio Sarney insiste em se
apresentar como o Messias do Maranhão, o homem-verdade da História, a partir do
qual um Novo Maranhão ou um Maranhão Novo foi possível.
O
Brasil tem 27 Unidades Federativas, 26 Estados e 1 Distrito Federal. Brandir o
17º lugar em Produto Interno Bruto (PIB) é esquecer que essa riqueza está
concentrada nas mãos de sua família e agregados. Além de fingir que não
possuímos os piores indicadores sociais do país. É cansativo ter que repetir que
o PIB não traduz a distribuição da riqueza. Sarney não é ignorante, mas joga
com a ignorância.
Não
pretendo abordar novamente um assunto de sua Coluna. Abro uma única exceção: quando
sua senilidade o impedir de publicar no domingo seguinte. Aí talvez retome alguma análise de conjunto
quanto aos seus delírios de grandeza.
A
educação que ele afirma ter disponibilizado à época em que era Governador do
Maranhão na longínqua década de 1960 respondia parcialmente àquela conjuntura.
Observem que nos projetos que citou no artigo “Educação e modernidade” não
houve construção de escolas de educação básica, mas adaptações de casas já
existentes e isso em caráter precário, pois alugadas. Tanto que nada restou
desses projetos além da memória daquele que os toma como a redenção da educação
de um Estado com altas taxas de analfabetismo e baixíssima aprendizagem no
ensino regular.
O
ensino superior pegou carona em iniciativas já existentes. As faculdades
criadas pelo Governo do Estado foram todas em São Luís, na ilha-capital. Aos
municípios do continente sobrou a formação de professores, realizada com
enormes dificuldades. Essa medida garantiu que boa parte da elite dirigente com
nível superior fosse formada nos quadros mentais da insularidade.
A
educação no Governo Roseana só tem dois méritos, ambos imerecidos, ambos obtidos
por pressão dos educadores e educadoras. O primeiro foi o plano de carreira e
remuneração. O segundo foi a proposta de um Plano Estadual de Educação. É claro
que essa proposta não foi discutida de forma democrática. Como membro da
Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae), sou
testemunha que o Secretário de Educação, Pedro Fernandes, não permitiu que
acompanhássemos nenhuma das conferências realizadas. Chegaram a me convidar
para a conferência que seria realizada em Bacabal. Até hoje espero a
confirmação.
O
pior de todo o artigo é afirmar que a educação o fez aquilo que é. Ora, a
política foi responsável por isso, não a educação. A res publicae transformada em res
privatae. Os títulos recebidos são usuais para Presidentes da República de
países com peso no cenário global. Especialmente se durante a gestão, esses
Presidentes concedem benefícios econômicos aos países que lhe homenageiam.
O
único lugar em que Sarney está preso é no livro ou ao livro, como o próprio
afirma. Lamentavelmente, a Justiça dos tribunais superiores nunca lhe chegou. Por
oportuno, sugiro a ele, a leitura do livro "Psicanálise e Velhice". Escrito
por Dorli Kamkhagi, discute como envelhecer sem cair na euforia ou na negação,
como o senador tem feito. O que mais argumentar com um homem que utiliza
expressões como “bocas do diabo” e “chupando o dedo”?
O
maior serviço público que prestamos é não comentar essa Coluna, pois assim lhe
damos o tamanho que merece e a resposta que merece: nada, nenhum, silêncio e esquecimento.
Por fim, cancelar a assinatura do jornal “O Estado do Maranhão” é uma medida
fundamental, boicote necessário aos empreendimentos do grupo político dominante
e verdadeira medida cívica.
Caramba, falar que a variação intelectual de alguém está vinculada a quem ele lê, é, no mínimo, ridículo. Quer dizer que, se eu lesse alguma do Weverton Rocha, Renato Dionísio, entre outros, e fizesse uma avaliação positiva, seria eu um ser dotado de extrema inteligência e não teria meu nome na folha da prefeitura?
ResponderExcluirPrezado Waldir você se refere ao "praticamente impossível"? Até o presente momento não li nada aproveitável positivamente, talvez você consiga. O praticamente que podia ser basicamente, o isenta da "folha da prefeitura". A parte inicial do comentário "variação intelectual" não ficou claro para mim. Certamente que o que se lê influencia sim na formação intelectual de alguém. Entretanto, isso não é a mesma coisa de dizer que todos os oposicionistas escrevem o certo. Oscar Niemeyer dizia com seus companheiros ideológicos, é preciso ser fraternal, mas falar a verdade.
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