SÃO
LUÍS E A EDUCAÇÃO SEM PLANO
Jhonatan
Almada, historiador, primeiro secretário do Instituto
Jackson Lago e secretário executivo da Associação Nacional de Política e
Administração da Educação/Seção Maranhão.
Um
avanço importante da legislação eleitoral, pouco comentado, além da chamada Lei
da Ficha Limpa, foi a Lei N.º 12.034/2009. Dentre outras alterações, essa lei passou a
obrigar que as propostas defendidas pelo candidato a
Prefeito, a Governador de Estado e a Presidente da República, fossem entregues
quando da inscrição da candidatura junto a Justiça Eleitoral.
Graças
a essa mudança na legislação eleitoral podemos consultar os programas de
governo de todos os candidatos à Prefeito de São Luís. O Tribunal Regional
Eleitoral do Maranhão disponibilizou os referidos programas no seu “site”
institucional, facilitando essa consulta.
Consultadas essas
propostas, podemos afirmar, sem brumas no pensamento, que nenhum dos
postulantes ao cargo de prefeito da cidade faz qualquer menção a uma proposta
global, concreta e exequível para a educação municipal. A defesa de uma educação
pública unitária, estatal, gratuita, laica e de qualidade socialmente
referenciada é a grande ausência das eleições municipais de 2012.
Essa situação reflete
uma característica intrínseca a condução da política pública de educação, tanto
no nível municipal, quanto no nível estadual. Estados como o Maranhão, são
dirigidos por elites políticas intelectualmente empobrecidas, as quais copiam
explícita e abertamente as ideias disseminadas pelas elites dirigentes do país.
Um exemplo dessa cópia
é a discussão estéril sobre educação integral. Todos os candidatos que
debateram o assunto demonstraram um baixíssimo nível de abstração. A única
coisa que sabiam sobre educação integral é que a jornada escolar deveria ser
ampliada, principal pomo da discórdia entre eles.
Educação integral é um
assunto muito mais complexo, envolve ampliação de tempos e espaços escolares
(quadras, bibliotecas, laboratórios, oficinas de trabalho, etc), jornada única
da professora ou professor, revisão do projeto político-pedagógico das escolas,
alterações nos planos de carreira e remuneração, garantia de merenda escolar nutritiva
e balanceada, desenvolvimento de atividades artísticas e práticas esportivas
diversificadas, dentre outros elementos.
Educação integral em
uma determinada perspectiva filosófica é aquela que envolveria o trabalho e o
ensino de forma indissociável, envolveria o desenvolvimento intelectual, físico
e politécnico do estudante. Não é simplesmente dobrar a jornada escolar, como
todos os candidatos afirmaram.
Após
leitura atenta de todos os programas, especialmente no que diz respeito à
educação, observamos ainda, a inexistência de qualquer menção à necessidade de
um Plano Municipal de Educação para São Luís.
A ausência de uma
proposta referente a um Plano Municipal de Educação é sintomática de pelo menos
três questões relevantes. Primeiro, os candidatos desconhecem os debates e
discussões dos últimos 3 anos que resultaram no projeto de lei do Plano Nacional
de Educação, tramitando a duras penas no Congresso Nacional. Segundo, os
candidatos se esquivam de um compromisso legal com metas claras e definidas que
poderiam gerar cobranças do eleitorado caso não fossem cumpridas. Terceiro, os
candidatos não pensam a educação como uma política de Estado e de longo prazo,
mas como uma política de Governo e de curto prazo.
Todos os planos de
governo copiam o que já vem sendo feito por intermédio dos programas do
Ministério da Educação. Não há qualquer proposição elaborada em face de uma
problemática específica de São Luís. Parecem seguir o lema: “se o Governo
Federal já faz, basta copiar”. Isso é uma característica da “política
educacional” dos municípios e do Estado do Maranhão, amplamente dependentes da
União do ponto de vista intelectual, pedagógico, técnico e financeiro. A
“política educacional” é não ter política educacional própria.
O Estado do Maranhão
completa este ano, 23 anos sem um Plano Estadual de Educação e o município de
São Luís segue a mesma trilha. Tudo indica que às vésperas do quarto centenário
de uma falsa fundação francesa, São Luís continuará com uma educação sem plano
e, portanto, sem rumo.
Comentários
Postar um comentário