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São Luís precisa de outro caminho


São Luís experimenta a crise de três modelos de governar a cidade. Crise entendida como esgotamento real e concreto da eficácia e efetividade desses modelos para a solução ou encaminhamento satisfatório dos problemas da cidade. Seria uma oportunidade de construção de outro modelo de governar, de outro caminho.

O primeiro modelo é mais mental que real, se expressa nas opiniões do senador José Sarney sobre como se deve administrar São Luís. Tenta transpor ideias e práticas originadas em um contexto diferente em termos históricos e sociais, aplicando-as, forçando-as para a complexidade atual. É sempre a tentativa de reviver a fantasia de 1965. O que deve ser feito? Zonear, melhorar a habitação, a educação, a saúde e o transporte público. Algo óbvio e abstrato, ainda que correto. É preciso acrescentar, segundo Sarney, nenhum prefeito do passado recente teve competência para tal. Assim, o fato de não ter um aliado escolhido e ungido por ele a frente da Prefeitura de São Luís há muito tempo, é o fator explicativo do caos atual. Infere-se na análise do senador, certo saudosismo da época em que o governador indicava o prefeito da capital.

O segundo modelo é o praticado pela governadora Roseana Sarney, sua filha, em seus quatro mandatos a frente do Governo do Estado do Maranhão. Eu quero, eu faço. Se útil, se discutido ou demandado pela sociedade, não interessa, isso é secundário. O importante é abrir grandes avenidas, fazer pontes, elevados, viadutos, marinas. Obras que servem especialmente para o pequeno circuito da cidade habitado por ela e pela classe mais rica do Maranhão e de São Luís, em geral a elite política, parte da burocracia comissionada e uma emergente nova geração desses grupos. O provincianismo insular ainda exalta o que é grande pelo tamanho, mas pequeno pela eficácia. Nada disso irá resolver o problema, pois a crise é justamente do modelo baseado em 1 carro para cada indivíduo e do ônibus para todos os outros.

Os dois modelos anteriores criaram uma realidade virtual no Maranhão, fantasiada, ilusória e falsa. O Estado é bom, rico, próspero, se desenvolve a passos largos. Se aparecem péssimos indicadores sociais, pistolagem, violência no campo e na cidade, educação de baixíssima qualidade, hospitais fantasmas, corrupção massiva, trabalho escravo, pobreza e miséria, a culpa é da mídia nacional que não vê o bom, só o péssimo. São Luís é ruim, pobre, acabada, retrocede rapidamente. É como se São Luís não fosse parte do Maranhão. Seria, se o prefeito da capital fosse do grupo liderado pelo senador Sarney, como o é o de São José de Ribamar, repentinamente a cidade que concentra todas as virtudes e soluções para a remissão dos municípios maranhenses. Nada mais que uma propaganda; não resiste a uma rajada de vento.

O terceiro modelo é o do atual prefeito João Castelo. Você não vê, mas a prefeitura trabalha por você, como afirma sua propaganda. Asfaltamento de ruas, sem o devido cuidado com a drenagem e o esgotamento das vias, reformas de escolas e postos de saúde, promessas de grandes obras, hospital, prolongamento de avenidas e soluções mágicas, como o metrô. Para citar apenas um exemplo, há mais de 10 anos que o retorno da Uema alaga e nenhuma das intervenções feitas até hoje resolveu o problema. Claro, tudo é prometido no ano eleitoral, quando nada será concluído e pouco será iniciado. Prática comum a todos os modelos de governar apresentados.

Necessitamos de outro caminho, cujo fazimento possibilite a emergência de outro modelo de governação da cidade de São Luís. Nossa formação política é tão sui generis que é o caso de precisarmos de uma quarta via. Não pode ser imposta pelas pretensas inteligências políticas locais, mas construída coletivamente. Existem inúmeros encaminhamentos, propostas, experiências e práticas em São Luís, no âmbito não-governamental, de mercado e comunitário, as quais palmilham nesse sentido. A questão é como articular isso, aproveitar isso, verbalizando outro modelo de governação. Não está claro quem o fará. Está claro que os três modelos apresentados atualmente não dão conta.

Por Jhonatan Almada, historiador.

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