Pular para o conteúdo principal

ÁGUAS FUJONAS DA BAIXADA Leo Costa

ÁGUAS FUJONAS DA BAIXADA

 

Léo Costa

 Sociólogo

 

                Na retrospectiva, muitas vezes, como é interessante verificar o nascimento e o desenvolvimento de um projeto de longo alcance humano, histórico, econômico, ecológico e social! Este é o caso do Projeto Águas Perenes, no âmbito do interrompido Governo Jackson Lago, também conhecido como Projeto Águas Fujonas da Baixada Maranhense.

                Antes mesmo da instalação da equipe da Secretaria de Planejamento do Governo da Frente de Libertação, nos seus movimentos embrionários, em dezembro de 2006, numa bela manhã de domingo, procura-me o inquieto engenheiro químico Francisco Bordalo. Sonhando e sonhador como todos nós, traz debaixo dos braços uma maçaroca de mapas dos lagos da Baixada Maranhense.

                Instalado o Governo, juntam-se informalmente à pequena célula aquática do projeto o baixadeiro de velha cepa, Francisco Figueiredo, um dos ícones da Greve de 51, o jornalista e criador de patos Reginaldo Telles e o bancário de Pinheiro, Cezar Soares.

                Inúmeras reuniões acontecem na Secretaria Estadual de Planejamento e no pequeno auditório do Consórcio Intermunicipal de Produção e Abastecimento, CINPRA SÃO LUÍS.

                O movimento pela retenção da  água doce da Baixada foi crescendo, crescendo... um grupo técnico/empresarial estudioso e projetista das soluções do problema foi descoberto, até que em 14 de dezembro de 2007, uma entusiástica reunião de consulta popular acontece e explode em São Vicente de Ferrer, em pleno coração da Baixada. Com o apoio logístico do Prefeito Cabo Freitas e da Prefeitura da cidade, a região inteira estava lá, de Anajatuba a Turilândia, da associação de pescadores à associação de  comercial, do agente de saúde ao prefeito, vice-prefeito e vereador.

                A rádio noticiou, os jornais falaram: um antigo e unânime sonho da Baixada estava nascendo.

                Nasceu, naquela histórica Sessão Pública, com o nome de Águas Fujonas. Depois, no laboratório de planos da SEPLAN, foi batizado de PROJETO ÁGUAS PERENES.

                Assim historiado, eis do que se trata:

- construção de uma barragem no Rio Maracu, no Município de Cajari;

- construção de um dique de contenção das águas num percurso de 70 km, da estada Vitória/Viana com 21 vertedouros, até a cidade de Bacurituba, com o objetivo de perenizar os lagos do Coqueiro, das Itans e do Aquiri;

- conclusão da barragem de São Vicente de Ferrer;

- construção de pequenos diques nas enseadas do Rio Aurá, atingindo os municípios de São Bento, São Vicente, Bacurituba, Palmeirândia, Peri-Mirim, Bequimão e Alcântara.

                Quem é baixadeiro conhece naquelas paragens esse fantástico paradoxo da natureza: no inverno, a Baixada vira um Pantanal Matogrossense. A vida explode, da lama ressequida, como por milagre, faz-se a multiplicação dos peixes, não há mais fome na região, pássaros, bois e búfalos fazem sua festa.

                Ao contrário, no verão, as águas fogem repentinamente, aquele mar vira sertão, falta água, animais morrem de sede, a vida se retrai, as sementes de peixes se aninham nos charcos, a fome ronda a casa dos pobres, a alegria cede à tristeza. Nas marés altas, a água salgada invade campos e enseadas, salinizando o terreno: mais um problema econômico e ecológico de conseqüências negativas para o futuro.

                Antes de ser golpeado e absurdamente apeado do poder, o Governo Jackson Lago depositou R$-47.000.000,00 (quarenta e sete milhões de reais) na conta do Consórcio CONLAGOS, uma entidade cooperativa de municípios da Baixada, primeira parcela de um total de R$- 134.000.000,00 (cento e trinta e quatro milhões de reais) que era o valor global do projeto, recursos totalmente garantidos pelo Tesouro Estadual.

                O dinheiro para iniciar o projeto ÁGUAS PERENES foi seqüestrado da conta do CONLAGOS. Dois invernos e dois verões já se passaram. É com tristeza que presenciamos mais uma protelação, mais um adiamento de solução tão lógica e evidente como é o caso da perenização dos lagos da Baixada Maranhense. Uns tiveram tanto tempo e poder para fazer e não fizeram. O Governo Jackson comprou a idéia, depositou o dinheiro no CONLAGOS e o projeto estava em marca acelerada para acontecer, mas foi bruscamente interrompido. A esperança de segurar as águas fujonas da Baixada não morreu. A bola bateu na trave, mas esse gol o povo um ido da Baixada ainda há de fazer. E não há dúvida: será um belo gol de placa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Educação do Brasil

A Educação do Brasil: cinco contrapontos necessários Este livro é fruto de um esforço de sistematização sobre cinco questões relevantes presentes no debate sobre a educação pública do Brasil e que tenho abordado em aulas, conferências e intervenções públicas, sobretudo para estudantes na Universidad Autónoma de Baja California (UABC), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Centro Universitário IESB, Universidade Estadual de Roraima (UERR), Centro Universitário UNDB, Faculdade Santa Luzia e Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Portanto, há uma postura didática na minha escrita para responder às seguintes perguntas: 1. Existe só descontinuidade nas políticas educacionais brasileiras? 2. A infraestrutura escolar não importa para a qualidade do ensino? 3. Sobra recurso e falta gestão na educação pública? 4. A qualidade do ensino se resume aos resultados das avaliações? 5. As escolas militares são solução para os problemas da educação pública? Organizei as respostas para essas p...

BANQUE O DURO, MEU CHEFE

BANQUE O DURO , MEU CHEFE ! Por Raimundo Palhano Não deixe o seu lugar. Foi o conselho do venerável Bita do Barão de Guaré ao presidente do Senado, José Sarney, que, ao que parece, está sendo levado extremamente a sério. Quem ousaria desconsiderá-lo? Afinal, não se trata de um simples palpite. Estamos frente à opinião de um sumo sacerdote do Terecô, um mito vivo para o povo de Codó e muitos outros lugares deste imenso Maranhão. Um mago que, além de Ministro de Culto Religioso, foi agraciado pelo próprio Sarney, nos tempos de presidência da República, com o título de Comendador do Brasil, galardão este acessível a um pequenino grupo de brasileiros. Segundo a Época de 18.02.2002, estamos falando do pai de santo mais bem sucedido, respeitado, amado e temido do Maranhão. Com toda certeza o zelador de santo chegou a essa conclusão consultando seus deuses e guias espirituais. Vale recordar que deles já havia recebido a mensagem de que o Senador tem o “corpo fechado”. Ketu,...

Faltam recursos e gestão na educação

É sempre necessário lembrar Celso Furtado quando disse que economia sem ciência social é pura álgebra, assim se pode compreender o texto do economista Marcos Mendes publicado dia 1º de novembro na Folha Mendes se volta contra a expansão da complementação federal ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb, por ter sido supostamente incapaz de entregar resultados melhores em exames como o PISA, avaliação internacional amostral. O aumento da participação federal no Fundeb de 10% para 23% foi previsto pela Emenda do Fundeb permanente em 2020 (EC 108), mas ainda não foi concluído, porque está escalonado para ocorrer paulatinamente de 2021 até 2026. Todavia Marcos Mendes se apressa em avaliar a mudança desde já, como se já estivesse plenamente implementada há décadas. O autor ignora ou deliberadamente desconsidera que reformas educacionais não produzem efeitos imediatos, tampouco são automáticas, porque demandam enraiza...