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O VIETNÃ E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NO MARANHÃO



Jhonatan Almada, historiador, escreve as sextas-feiras no Jornal Pequeno


A retomada da cooperação internacional no Maranhão nos permite conhecer experiências exitosas e aprender formas de superação de problemas similares vivenciados em outras partes do mundo. Exemplo disso é o Vietnã. Durante uma semana, o Embaixador Nguyen Van Kien, a embaixatriz Luong Le Hien, o ministro comercial Pham Ba Uong e o secretário Le Tung Son conhecerem as potencialidades econômicas do Maranhão, os principais pontos turísticos, dialogaram com os secretários do governo, políticos e empresários, visitaram o Porto do Itaqui e a Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

O Vietnã está localizado no Sudeste Asiático, fazendo fronteira com Laos, Camboja e China. Sua área de 331 mil km2 (pouco menor que a maranhense) abriga 90 milhões de pessoas. O produto interno bruto é de US$ 170 bilhões de dólares, com renda per capita de US$ 1.896 dólares. A expectativa de vida é de 75,4 anos, com 93,2% da população alfabetizada e desemprego de 4,5%. A economia mesmo em tempos de crise, mantem crescimento médio anual de 5%. Números invejáveis e promissores que evidenciam o trabalho da Revolução Socialista de 1945 que venceu a dominação colonial da França, a invasão do Japão e a guerra contra os Estados Unidos em meio a poucos recursos, grandes perdas humanas e o espírito obstinado de resistência.

O país foi reunificado em 1976 e somente em 1994, os Estados Unidos suspenderam o embargo econômico e comercial, similar ao que Cuba enfrenta até hoje. Apesar da devastação da guerra, esforço inteligente e concentrado priorizando educação, ciência e tecnologia tornaram o país um dos maiores produtores de arroz, café, castanha de caju, pimenta e pescado, exportando para o mundo todo e atualmente em acelerado processo de industrialização. Os revolucionários chegaram ao governo em 1945, mas só em 1976 alcançaram o poder. 

O que mais chamou a atenção da comitiva vietnamita foi a fartura de terras, a extensa costa marítima, as águas doces e as boas condições climáticas para a agricultura e pesca. Por outro lado e em contraposição, uma maioria de maranhenses empobrecida e dependente dos programas de transferência de renda. Eis o paradoxo do Maranhão ainda por ser decifrado, o Maranhão do interior sinalizado por Raimundo Palhano. As similaridades naturais identificadas pelo Embaixador estimularam o diálogo e a identificação de oportunidades. Não é concebível que tal potencial disponível em um país sem guerras fique por se contemplar, sem maiores consequências positivas e de prosperidade para as maiorias.

O Vietnã tem muito a nos ensinar. Trabalhar com pouco, mas de forma honesta e intensiva; investir em ciência e tecnologia para elevação da produtividade agrícola; disponibilizar permanentemente assistência técnico-científica das Universidades aos homens e mulheres do campo; e estimular a geração de renda nas comunidades rurais; são algumas dessas lições. Em face disso, a cooperação internacional com o Maranhão priorizará a agricultura, a pesca, o intercâmbio linguístico e comercial. Nos próximos meses, o estado será irmanado a uma província do Vietnã e a cidade de São Luís a uma cidade vietnamita. Esses são os passos iniciais para a materialização de acordos e trocas mutuamente benéficas.

Ho Chi Minh (1890-1969), líder e pai do Vietnã independente, afirmava sempre que a principal força está no povo. Entre as doze recomendações deixadas como responsabilidade fundamental do governo, estão: nunca faltar com a palavra, não fazer ou dizer qualquer coisa que sugira desrespeitar o povo, ensinar a população a escrita nacional e a higiene básica, mostrar-se e ser correto, diligente e disciplinado. Tais recomendações sempre estiveram ausentes ou nunca foram seguidas em terras maranhotas, praticá-las tem sido a luta diária daqueles e daquelas comprometidos com a mudança na vida das pessoas. 

A batalha do Maranhão está nas suas primícias, chegou-se ao governo e muito há por fazer. Ho Chi Minh, mais uma vez, mostra o caminho, ao registrar que “apenas quando tem uma raiz firme pode uma árvore viver muito e a vitória é construída tendo as pessoas como seu alicerce”. Perseveramos obstinadamente nesse caminho.

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