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ESTRADA DO SOL - João Batista Ericeira

Ainda estou muito sentido e impactado, escrevo algumas linhas com os olhos cheios d'água. 

Conheci o professor Ericeira há 16 anos, pouco depois de vir morar em São Luís, fui aluno do curso de políticas públicas oferecido pela Escola de Formação de Governantes(EFG) dirigida por ele e vinculada à Escola de Governo da Universidade de São Paulo-USP, criada por Fábio Konder Comparato. Ali fomos construindo nossa amizade a partir da relação mestre e aluno.

Nestes 16 anos sempre estivemos juntos, nunca passamos uma semana sem nos falar, quando ligava falava com a voz grave "- Professor Almada, como estão as coisas?". Depois caíamos na risada e assim levamos, trabalhamos juntos na Escola de Formação de Governantes, onde me tornei professor e coordenador de projetos; na Escola Superior de Advocacia, onde criamos dois Cursos de Especialização em Direito; na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e no Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão.

"São demais os perigos dessa vida", citando Vinicius de Moraes, era o jeito do professor Ericeira me aconselhar e alertar. Ele deu a mão e uma oportunidade a um menino vindo do interior que sabia pouco da vida, mas tinha aquele sentimento do mundo. Ericeira era Grande por possibilitar futuros aos que com ele trabalhavam e aprendiam. Foram anos de convivência fraternal.

Produtivo, inquieto e detalhista, professor Ericeira se empenhava de todo naquilo que priorizava materializar, o Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão foi um dos exemplos mais recentes de sua capacidade de articulação e realização.

Nossa parceria perpassou os livros, claro! Coordenei a publicação dos livros "Crise da crise da advocacia", coletânea de seus artigos de 1992 a 1995, publicada pela Editora Fiúza e prefaciado pelo Comparato; "A empresa de economia mista e o desenvolvimento do Maranhão", publicado na coletânea da Biblioteca Básica Maranhense-BBM; "Notáveis Advogados: operários do verbo, escudeiros das ideias", publicado com apoio da OAB. Lembro bem quando vasculhando seus artigos, sugeri que fizéssemos um livro só com os perfis das pessoas que ele estimava, aceitou logo, demorou alguns anos até conseguirmos imprimir o livro; escrevemos juntos "Pelo Direito à Educação no Brasil", eu, ele e o querido professor Raimundo Palhano, foi nosso último livro, uma declaração de amor à escola pública e a garantia do direito à educação.  

Adorava bossa nova, especialmente Dolores Duran, conhecia toda a história da cantora e nos tantos jantares comigo, professor Palhano e professor Rossini Corrêa, contava seu gosto musical. "Olhe, meu bem. Nunca mais nos deixe, por favor, somos a vida, o sonho".

As aulas do professor Ericeira eram elegantes e inteligentes, memorialista fenomenal conseguia entremear história, política e cultura nas suas exposições, reuniões e conversas cotidianas. Humilde e modesto, ninguém imaginava a sua vasta trajetória, que fui conhecendo e aprendendo a admirar.

Professor da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, onde também foi Assessor do Reitor, Chefe de Departamento, Procurador-Chefe e candidato a Reitor, integrando a lista sêxtupla; coordenador da Campanha Nacional de Alimentação Escolar no Maranhão, Delegado Regional de Polícia, Diretor da Divisão de Criminalística, Corregedor de Polícia, assessor jurídico do Tribunal Regional Eleitoral, onde atuou como Procurador Eleitoral, pesquisador do CNPq, da Fundação Casa de Rui Barbosa, da Associação Latino-americana de Metodologia do Ensino de Direito, presidente da seccional do Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito, membro da Comissão do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras-CRUB que acompanhou os trabalhos da Constituição Federal de 1988; na Ordem dos Advogados do Brasil, sua querida OAB, foi conselheiro estadual e federal, vice-diretor e diretor da Escola Superior de Advocacia-ESA e da Escola Nacional de Advocacia-ENA, presidente da Comissão do Exame de Ordem, da Comissão de Ensino Jurídico e da Comissão Especial pelo Direito à Educação; consultor jurídico da Federação Maranhense dos Municípios-FAMEM, membro do Conselho Estadual de Trânsito, membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social, chefe da assessoria jurídica do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos do Maranhão-IMESC, professor honoris causa do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IEMA e conselheiro sênior da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Maranhão-SECTI.

Tudo isso e mais, o professor Ericeira era um fundador de instituições, o Curso de Direito da FACAM, da FAI e do UniCEUMA, Academia Ludovicense de Letras, Academia Maranhense de Letras Jurídicas, Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política, Associação Brasileira de Advogados Eleitorais, Associação Brasileira de Advogados, Associação Maranhense de Advogados.

Não sei se todas essas instituições lembram ou lembraram do professor Ericeira, senti a necessidade de trazer essa memória à tona por achar justo que fique registrado para a história, como ele dizia citando Olavo Bilac "Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia, Assim! De um sol assim!"

Não posso esquecer que adorava escrever e seus artigos já estiveram pelos jornais O Estado do Maranhão, O Imparcial, Revista da ENA, Revista Júris, Revista Maranhão Hoje, Revista Forense, Revista Síntese, Revista da Associação dos Antigos Alunos da PUC-Rio, Revista do Curso de Direito e Cadernos de Pesquisa da UFMA. Falta reunir e publicar toda sua coletânea de artigos de 2004 a 2021, deixou ainda um livro inédito com suas aulas do Curso de Direito, a SVT Faculdade irá publicar. 

Quando íamos a Caxias, o levava em minha casa e oferecia a comida que ele mais gostava lá, costelinhas assadas, comia com as mãos, depois vinham os cajus da salvação.

Todas as vezes que chegava seu aniversário ele dizia - Jhonatan aquele DVD que você me deu é excelente! Foi um documentário sobre Vinicius de Moraes que dei de presente, quando me contava, vinha logo sua citação do depoimento de Gilberto Gil "Vinícius foi no cerne da paixão" e ríamos de novo.

Nesses últimos tempos, começou a ter dificuldades de andar e me ligava para irmos ao encontro do diletíssimo professor Sérgio Tamer, queria muito fundar uma nova Academia e conseguiu, a Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política. 

Eu lhe dava o braço e ia com cuidado subindo e descendo o carro, subindo e descendo escadas, nem desconfiava que ele já estava doente. 

Quando eu perguntava me dizia que tinha sido uma queda, mas estava fazendo fisioterapia e logo ia melhorar. 

Professor Ericeira sem dizer nada, pegou a Estrada do Sol, embalado por Dolores Duran, "Quero que você me dê a mão, que eu vou seguir por aí, sem pensar no que foi que eu sonhei, que eu chorei, que eu sofri, pois a nossa manhã já me fez esquecer, me dê a mão, vamos sair pra ver o Sol".

Sinto sua falta!

Abraços fraternos, 

Jhonatan Almada.

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