Jhonatan Almada, historiador
Vivemos tempos brutos na
sociedade. As redes sociais permitem que as informações circulem de qualquer
lugar para outro em uma velocidade insana. Mulheres são vítimas de estupro
coletivo. Gays são assassinados. Golpes de estado são gestados pelas vias
institucionais com a complacência da elite política. Homofobia, feminicídio,
intolerância e ignorância estão disseminadas com maior intensidade por que mais
visíveis e robustas.
Quais são os caminhos a
se tomar? Como enfrentar esses tempos brutos e sair vivos dessa máquina de moer
gentes? Perguntas nada fáceis de responder ou divisar certezas sólidas. Quando
olhamos no retrovisor é perceptível que passamos por situações piores e
conseguimos nos reconstruir, nunca extirpando todos os problemas, impossível.
Deixamos de ser colônia, nos tornamos independentes, abandonamos a escravidão,
implantamos a república, superamos duas ditaduras, passamos pela crise dos anos
1980, 1990 e 2000. Os traumas e questões não resolvidas nesse caminho são
muitos.
O Governador Flávio Dino
tem insistido na necessidade de diálogo entre as duas principais forças
políticas nacionais para a definição de uma agenda comum que nos tire da atual
situação de voragem econômica, política, policial e jurídica. No entanto, as
duas forças, especificamente o PT e o PSDB são incapazes de dialogar por que
deixaram de acreditar na política como a convivência entre os diferentes e
divergentes. A política passou a ser instrumento com o único objetivo de anular
o outro, visto como inimigo.
Essas forças estão tão
imersas nesse objetivo que não veem ir a pique todo o sistema político. Não
existe mais imparcialidade ou funcionamento normal das instituições, nunca
houve no Congresso Nacional, havia em alguns órgãos do Governo Federal e se
deformou totalmente nas instâncias do Poder Judiciário. Nós vivemos em uma
República, mas financiamos cortes e tiranetes.
O Supremo Tribunal
Federal é um órgão extremamente oneroso, pomposo e ineficiente. Em prévia de
estudo a ser publicado este ano, o professor Luciano da Ros (UFRGS) aponta que
o Judiciário brasileiro é o mais caro do mundo, consumindo 1,2% do PIB, ou
seja, R$ 68,4 bilhões de toda a riqueza
produzida. É mais do que o país gasta em educação infantil (0,6%), ensino médio
(1,1%) e ensino superior (1,1%). Gastamos 1,74% do PIB em ciência e tecnologia.
Isso se chama corrupção de prioridades e sustentar pequenas monarquias dentro
da República.
A voragem de notícias
talvez nos faça esquecer que pagamos para os ministros do STF e juízes de modo
geral, auxílios, indenizações, férias dobradas, passagens aéreas para os
cônjuges, cursos, congressos e carros oficiais, dentre outras despesas não
divulgadas, pois inexiste transparência no Poder Judiciário em moldes similares
ao Poder Executivo. Em uma crise brutal, com rombo estimado de R$ 170 bilhões, a
Câmara dos Deputados aprovou aumento para o Poder Judiciário com impacto de R$
67 bilhões. Desaprenderam matemática básica.
O governo interino de
Michel Temer optou em ampliar o custeio da máquina pública, reajustando o
salário do funcionalismo em vez de investir esses recursos em programas como o “Minha
Casa, Minha Vida” e os de infraestrutura de estradas, hidrelétricas, portos e
aeroportos. Pretendem fazer o país voltar a crescer dando mais dinheiro a quem
já tem muito, os quais não irão usar esse aumento no consumo interno. A rigor,
nós estamos comprando apartamento em Miami para a elite do funcionalismo
federal em troca do rombo das contas públicas e da escassez de investimentos no
setor produtivo.
Como um país pode
sair da crise gastando mais com ministros, deputados, senadores, juízes,
promotores e servidores da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Poder
Judiciário e do Ministério Público?
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