Jhonatan Almada, historiador.
Os
movimentos de protesto que conquistaram as ruas das grandes cidades do Brasil
renovam em mim a crença na capacidade de mobilização de cada um e de cada uma
que juntos tornam real e concreta a abstração a enfeitar quase toda
Constituição no mundo: o povo. Não são os indivíduos da direita, não são os
cidadãos da esquerda moderada, tão pouco os corpos da esquerda pós-moderna. É o
povo.
As
pessoas vão às ruas anunciar sua indignação de forma pública, sentimental e
incansável. Não precisam de siglas partidárias que há muito não as representam.
Não precisam de bandeiras claras, pois a indignação mais legítima é a que não
se limita num pedaço de papel com pautas e proposições. Não precisam de
lideranças, pois a democracia que exercem é a direta. Não precisam ser
pacíficas, pois foi a passividade e a cordialidade que nos colocaram no atual
patamar de corrupção e de tolerância com a corrupção. Não precisam de aprovação
da mídia dominante, tão pouco da sua cobertura, pois essa mesma mídia é fruto
daqueles contra os quais o povo se indigna, se mobiliza.
O
ponto crucial dessas mobilizações, o mesmo dos manifestantes da Praça do Sol na
Espanha, dos manifestantes da Primavera Árabe e do Occupy nos Estados Unidos, é
parar na manifestação da revolta, na indignação contra os que ocupam o poder,
na denúncia da corrupção, no empunhar de cartazes e no ocupar de ruas. O ponto
crucial é derrubar dos governos e de suas instituições executivas, legislativas
e judiciárias aqueles que as ocupam e não mais nos representam ou não mais atendem
aos interesses da maioria que está nas ruas. O ponto crucial é assumir esse
poder e exercê-lo de forma direta, esse é o ponto que os manifestantes, mundo a
fora, não conseguiram ou se recusaram atingir. Se quiserem chamem de revolução.
A questão fundamental,
a meu ver, passa por deslocar a indignação das coisas (ruas, praças, prédios
públicos) para as pessoas (governantes, representantes políticos, dirigentes),
retirando-as, no braço se preciso for, dos cargos que ocupam e reiniciando o
pacto político e social brasileiro. A exclusão radical dos grupos familiares, parasitas
que nos exploram a gerações sem nunca se incomodar ou ser incomodados, será a
página mais bela escrita na História do Brasil.
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