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Na luta pela memória do feito (sobre entrevista de Flávio Dino)


Na luta pela memória do feito (sobre entrevista de Flávio Dino)

Por Jhonatan Almada

O jornal "O Imparcial" de hoje (5/10/09) traz entrevista emblemática do deputado federal Flávio Dino, em carga para as eleições de 2010, buscando estar governador do Estado do Maranhão. Nada mais legítimo para um político da sua geração e com seu desempenho.

A parte mais interessante é quando se propõe a representar uma nova proposta para o Maranhão, um projeto de desenvolvimento que retire o estado do atraso, algo que, segundo ele, o governo Jackson Lago e o governo Roseana Sarney não conseguiram trazer.

A comparação com o governo Roseana Sarney não merece nossa atenção, dado que tanto ela, quanto o grupo que representa, não têm e não tiveram projeto para o Maranhão, e aqui me refiro a projeto concreto e real de transformação da realidade social, não de peças midiáticas e documentos encomendados a consultorias caras. Por certo, a “estratégia de desenvolvimento”, vamos chamar assim, prevalecente neste grupo desde os anos 1960, implicou no desastre dos grandes projetos, no inchaço da capital e na destruição da capacidade estatal. Disso a comunidade acadêmica local nos farta de literatura.

O governo Jackson Lago não só identificou os grandes desafios para o desenvolvimento do Maranhão, como apresentou e estava implementando proposta concreta de enfrentamento e mudança, tanto o foi que sua defenestração do poder é a prova mais sonora disso. Creio que, lamentavelmente, o deputado federal Flávio Dino, não leu ou tomou conhecimento do assunto, apesar de ter recebido grande volume do material produzido nos últimos dois anos.

O Maranhão apresenta uma economia concentrada na capital, um aparelho estatal combalido e com as gastas estruturas centralizadas e concentradas em São Luís, além da ausência de alternância do poder político que dura décadas. A mudança passava necessariamente pela política de descentralização e democratização da gestão pública, alicerçadas na regionalização para o desenvolvimento, no fortalecimento dos conselhos de políticas públicas, na recuperação da máquina estatal, na cooperação internacional e numa política altiva e soberana em relação aos investimentos privados. Não são palavras num texto, mas práticas concretas e reais iniciadas no Governo Jackson Lago e interrompidas antes da maturação.

A luta em 2010 não é só pela reconquista do poder, mas, sobretudo pela memória. Muitas mãos teceram com grande esforço a aparentemente simples síntese do parágrafo anterior. Espero que seu trabalho, por vezes silencioso, anônimo e discreto, não seja ignorado pelo tempo quente de política.

"De joven te ignoré, me vistió la suficiencia y me creí repleto, y orondo como um melancólico sapo dictaminé: Recibo las palavras directamente del Sinaí bramante. Reduciré las formas a la alquimia. Soy magico" P. Neruda

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