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OS EMPRESÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL FORAM LAVADOS



Jhonatan Almada, historiador


A Operação Lava Jato evidencia, quase permanentemente, as relações patrimonialistas que estão na raiz da formação social brasileira, mas não tão diferentes da promiscuidade existente entre o público e o privado em outros países, vide as máfias italianas, chineses e japonesas ou o lobby americano. Contudo o complexo de vira-latas do brasileiro insiste ser a corrupção exclusividade nossa por prática institucionalizada ou por volume de recursos desviados. Nada disso é verdade, mas tem forte efeito de verdade. 

Aspecto pouco abordado tem sido o dos empresários da construção civil, sobretudo com o interesse generalizado em criminalizar o partido no poder. Esses empresários não são anjos puros corrompidos pelos políticos malvados, não há essa relação maniqueísta. Os empresários corrompem por que os políticos se deixam corromper, os empresários se deixam corromper por que os políticos corrompem, ambos ganham para que o povo perca.  

Temos inúmeros exemplos em relação às obras herdadas do Governo Roseana Sarney, ainda hoje com desdobramentos e prejuízos milionários para o povo do Maranhão. Foram encontradas obras em que o empresário recebeu 70% do pagamento, mas nenhum tijolo tinha colocado, outros que receberam 80% do pagamento com 40% da obra executada, outros ainda receberam 70% dos pagamentos, executaram 20% e abandonaram a obra.

A empresa MARKET Engenharia, por exemplo, que executou a obra com recurso federal no município de São José de Ribamar, a qual será transformada em unidade do IEMA, abandonou o contrato faltando somente 4% para concluir uma quadra poliesportiva. Pasmem, esse contrato é de 2012, estamos em 2016, quase 5 anos e não conseguem concluir uma quadra. Inacreditavelmente deixaram de concluir e de honrar os pagamentos dos trabalhadores. Qual remédio senão multar e impedir de licitar com a administração pública?  

Isso tudo entre junho e outubro de 2014, auge do período eleitoral que foi decisivo para a derrota do grupo dominante. Creio, com pouca margem para dúvida, que esses recursos alimentaram campanhas e eleições de 2014, lamento profundamente não termos provas concretas e materiais disso. Precisaríamos também de uma Operação Lava a Jato da Polícia Civil do Maranhão para cruzarmos dinheiro arrecadado em campanhas, empresas, pagamentos e obras efetivamente realizadas. Asas duras desfilam por sobre nossa indignação e posam como lideranças impolutas ante o povo.

Os empresários da construção civil do Maranhão precisam compreender que o governo é outro, aqui não há acesso antecipado e privilegiado aos editais de licitação, também não há divisão prévia das obras com vencedores previsíveis dos certames. Livre concorrência e lisura do processo licitatório são inegociáveis. Aqueles que não compreendem isso não farão falta nas obras urgentes e necessárias que o governo precisa fazer em cumprimento do seu programa de metas.

Forças estranhas têm atrapalhado o andamento das licitações para a construção das unidades do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA). Serão 23 unidades ao custo médio de R$ 12 milhões cada, totalizando mais de R$ 250 milhões em investimento direto e geração de emprego na construção civil de 23 municípios do estado. 

A demanda por educação profissional e tecnológica em tempo integral pode se ver solapada por interesses nebulosos. Cada pai ou mãe que por ventura esteja lendo o meu artigo, saiba que uma unidade do IEMA representa acesso à educação em tempo integral e de qualidade com formação técnica para seus filhos. Cada unidade do IEMA também representa emprego para os trabalhadores da construção civil, significa venda de insumos pelo comércio especializado e aluguel de máquinas e equipamentos para as empresas que trabalham com isso. Significa emprego para professores e técnico-administrativos que ali trabalharão. 

É inaceitável que um pequeno grupo acostumado com tramoias e arranjos obscuros possam prejudicar tanta gente ao mesmo tempo. Tempo é um recurso escasso e que não podemos perder.

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