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UM PROJETO DE BRASIL



Jhonatan Almada, historiador

Um grande desafio aos políticos e governos, amplificado pela crise da democracia representativa, é a sua responsividade às demandas e problemas apresentados da sociedade, sua capacidade de responder com palavras e ações ao rio antes represado que encontra vazão inesgotável pelas redes sociais. Não é tarefa fácil por que nem sempre o reivindicado é exequível ou passível de execução por parte dos políticos e governos. E a sociedade não se apresenta como interesse homogêneo e identificável, mas como interesses difusos e contraditórios. Pinçar uma maioria e um consenso para dirigir o rumo da ação política se torna raro e frágil, exigindo a permanente reafirmação daquilo que se pretende e do por que de tal rumo escolhido. 

Avança análise defendendo que o poder não pode mais ou pode menos do que antes. Quando se tem o Brasil e o Maranhão como exemplos para reflexão temos que descontar a força que o Estado e seus dirigentes ainda exercem pelo tamanho e importância para a economia, educação, saúde e infraestrutura. O fortalecimento das autonomias em contraposição à dependência em relação ao Estado ainda não é uma realidade palpável, talvez no próximo ciclo de superação da crise econômica possamos chegar mais próximo disso. O Estado ainda é vida e morte tanto para quem recebe Bolsa-Família quanto para quem preside o Banco, muitos postulam que dependendo de para onde o pêndulo oscila um destes perde.

Não se pode perder a esperança em nossa criativa capacidade de reinvenção, temos feito isso ao longo da história, superando crises graves, golpes, ditaduras e governos instáveis. Nosso traço complexo fruto da herança ibérica e do vezo cristão nos põe a cada eleição na busca por um messias que nos guie e resolva todos os problemas. É mais confortável delegar a tomada de decisão e aguardar de outro as ordens. Invariavelmente esse traço sofre da imprevisibilidade dos líderes escolhidos, pois são homens e mulheres como todos nós, sujeitos de virtudes e defeitos que podem acertar, mas também errar. O grande risco é escolhermos alguém que erre demais em tempos que exigem mais acertos.

É ocasião de construímos um projeto de país fora do eixo Rio-São Paulo, explicitando de outro ponto quais são os desafios e caminhos para o desenvolvimento brasileiro. A última vez que os intelectuais deste quadrante propuseram e conduziram um projeto de país se deu no longo ciclo de prosperidade observado entre os anos 1940 e 1960. Perdemos protagonismo para visões concentracionistas cujos imperativos categóricos excluíram distribuir o desenvolvimento e estimular sua regionalização. Essa tarefa é infinitamente mais difícil do que ser responsivo na política.

A atual liderança política do Maranhão busca conciliar a agenda econômica com a agenda social em síntese que combina o acesso a direitos com o estímulo ao crescimento. O tempo dirá se a síntese está correta ou menos errada. Não abrimos mão de arrecadar de quem sonegava impostos. Não abrimos mão da transparência na aplicação do recurso público arrecadado. Priorizamos o investimento em educação e saúde como vetores fundamentais para a conquista de novos futuros e a preservação da vida. Apostar na melhoria da infraestrutura e na qualificação dos trabalhadores como meios para atrair empresas ou fomentar sua criação e enfrentar a cultura instituída para fazer do serviço público algo eficiente e de qualidade tem sido pontos estratégicos para a sustentabilidade dessa síntese.

Economia, educação e ciência são três eixos capitais para construirmos um projeto crível e viável com capacidade de gerar consensos mobilizadores e resultados práticos que animem a caminhada, sobretudo atentos ao pragmatismo voraz da conjuntura. É por isso que definimos esses eixos como prioritários no projeto Ignacio Rangel que discutirá os desafios do desenvolvimento no Brasil e no Maranhão com o apoio de intelectuais e pesquisadores de todo o país. O Centro Ignacio Rangel de Estudos do Desenvolvimento será a ousadia institucional que abrigará essas inteligências e poderá verbalizar esse projeto. Lidamos com a matéria mais volátil do mundo: as ideias e ideais; o que há de mais poderoso para mover o mundo.

“Política, como se sabe, é economia feita por outros meios, como a guerra é a política feita por meios especiais. Por muito diverso que possa parecer aos nossos radicais, que imaginam ser tudo uma questão de querer”, assim Ignacio Rangel nos inspira na busca por mover o mundo.

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