Jhonatan Almada, historiador
O Brasil enfrenta horas
difíceis. Por um lado, temos o campo conservador articulado e com um objetivo
comum declarado, querem derrubar o Governo Dilma Rousseff. Os instrumentos a
disposição são um juiz como paladino, o presidente da Câmara dos Deputados, réu
Eduardo Cunha, a mídia capitaneada pela Rede Globo e a elite direitista
pseudomoralista. De outro, o campo da esquerda buscando unidade e perseverando
na defesa da democracia e da legalidade. Os instrumentos principais são as
redes sociais, a sociedade civil organizada, as universidades, as igrejas,
lideranças, políticos e juristas com estatura moral para se sobrepor ao estado
de coisas atual.
Nesse jogo de forças, o
mercado de há muito escolheu seu lado. Parte do Congresso Nacional também
aderiu a esse lado e pretende dar cabo do Governo via impeachment. A falsa
promessa é que no eventual Governo Temer, as asas da Polícia Federal seriam
cortadas e a Operação Lava-Jato desativada. A oposição seria contemplada com
Ministérios pela necessidade mesma de unidade nacional. O único expurgado seria
o PT e os maiores beneficiados o PMDB e o PSDB. O PMDB por que sai do histórico
de coadjuvante indispensável para comandante inevitável. O PSDB por que consegue
vencer em uma espécie de terceiro turno e embala suas esperanças para voltar a
titularidade do poder no país.
O herói eleito do lado
das forças conservadoras é o juiz federal Sérgio Moro, verdadeiro inovador da
Justiça brasileira. Antes havia a imagem de uma justiça cega, a qual caiu por
terra com a reiterada prática das instituições e da legislação que resulta na
prisão para pobres e negros e nos infinitos recursos e liberdade para os ricos
e brancos. Hoje existe a justiça linchadora, só enxerga um dos campos políticos
e condena antes de ver, julgar e agir. Estamos tão cansados do denuncismo
diário sobre a corrupção que aceitamos essa parcialidade como um mal menor para
garantir que alguém seja punido e preso, seja pelas instituições, seja pela
opinião pública. O problema dessa inovação é que sujeita a todos nós a um
possível linchamento popular sem o devido processo legal e por ato de vontade dos
pretensos heróis togados.
Fica claro que estamos em
busca de provas ou mesmo inventando provas para dar formato jurídico a um golpe
institucional no Brasil. Somente a ministra Carmen Lúcia não consegue ver. Ignoramos o problema sistêmico da política para
acreditar na solução fulanizada de mudança de atores. O clima de comoção criado
pela Rede Globo também gera uma expectativa cujo contentamento único é a
derrubada do atual Governo e a prisão de Lula. O ex-presidente foi alçado à
vilão pelo campo conservador, inimigo a ser combatido, anulado ou eliminado
pela ridicularização espetaculosa da justiça e da mídia.
Não sejamos tolos existe
um jogo para a plateia. Todo o Congresso Nacional tem mandato até 2018 ou 2022.
A derrubada do Governo não significa o fim do Congresso Nacional. Também não
significa que os mesmos políticos que foram comprados por Eduardo Cunha e pelas
empresas para se elegeram sumirão. Estarão lá na primeira hora do day after
dispostos a dialogar em troca de corrupção. Ilusório e equivocado creditar a
transformação da política nacional pela eliminação de uma fração das forças em
disputa. É importante desligar a televisão e pensar com a própria cabeça.
Assumir posições
políticas claras não é fácil para essa turma de pequenos tiranetes e projetos
oligárquicos. Somente quando a situação é popularmente insustentável vemos
alguma definição à luz das câmeras. Em face disso, assumir um lado que está
sendo atacado e se encontra fragilizado como fez o Governador do Maranhão
Flávio Dino não é pouco. Ele foi na contramão dos oportunistas. O preço da
coerência diria o desembargador federal Ney Bello também não será pequeno. Queimados
os barcos no porto não há volta, o caminho é lutar com altivez e serenidade
para erguer pontes. Não é o fim de nada, estamos recomeçando.
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