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ACREDITAR NA ESCOLA PÚBLICA


Jhonatan Almada, historiador
 
São tempos estranhos os que vivemos no Brasil. A radicalização política ameaça jogar o país no poço do imprevisível, não se sabe o fundo. As instituições que deveriam zelar pela lei se contaminaram pelo clima de negação da política apenas aparentemente justificada pela negação dos políticos. O espírito cruzadista desceu sobre promotores e delegados, acreditam piamente que para tudo resolver e acabar com a corrupção basta retirar o atual governo do poder e assassinar moralmente Lula.

A polarização de forças tem afetado fortemente as eleições municipais onde observamos candidatos buscando afirmar-se pela inviabilização dos concorrentes. Não existe democracia partidária no Brasil, as cúpulas impõem suas vontades. Pessoalmente gostaria muito de ver a militância partidária de algum partido se insuflar contra esse estado de coisas e democratizar pela base essa tomada de decisão.

A corrupção está diretamente ligada à política de gabinetes, à política que ocorre na ausência de luz. Apesar de todo o pandemônio que sacode o país nos últimos dois anos, muitos políticos continuam acreditando no lema de Benedito Valadares. Esse político mineiro ficou famoso pela frase “Que diabos de reunião é essa se ainda não decidimos nada antes?”. O decidir antes se dá pelas cúpulas e retira do povo o poder de escolha. Não basta confrontar o poder instituído via Polícia e Ministério Público. Se isso fosse eficiente não existiriam as máfias. Não se pode acreditar em isenção e imparcialidade quando o objetivo claro e transparente é implodir somente um dos campos políticos. 

É fundamental democratizar as decisões dos partidos. Vejam os americanos, apesar de eleição indireta para Presidente, o processo de escolha dos candidatos de cada partido em amplas consultas às bases dos estados da federação torna a escolha muito mais democrática que aqui. Qualquer filiado pode ser candidato desde que convença os demais e vença os concorrentes nas eleições internas. Na sequência enfrentam as eleições gerais para obter a maioria de delegados e daí sair vencedor.  

A despeito desse cenário perturbador e dramático, o Maranhão apresenta outras luzes. Essa semana inauguramos três unidades do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), nos municípios de São Luís, Bacabeira e Pindaré-Mirim. O IEMA, criado pelo atual governo do Maranhão, tem por objetivo ofertar educação profissional e tecnológica de nível médio e superior em todo o estado.

O diagnóstico preliminar que realizamos em 2014 durante a transição administrativa para o Governo Flávio Dino apontava para a total ausência da esfera estadual na oferta de educação profissional e tecnológica, cuja demanda basicamente é atendida pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Sistema S e escolas privadas, com o incentivo do PRONATEC.

Apresentamos a proposta inicial do IEMA ano passado em grande seminário realizado no Teatro João do Vale. Não foi mera coincidência este evento ter sido lá. Esse grande compositor e cantor brasileiro tem uma música emblemática “Minha História”. A partir de sua história de vida conta como a música o salvou de um destino de pobreza e exclusão, mas, a despeito da fama alcançada, registrava sua preocupação em relação aos seus conterrâneos que diferente dele não sabiam fazer baião. Com décadas de distância, compreendemos que o IEMA representa uma resposta a essa preocupação de João do Vale, a abertura de uma janela de oportunidade.

O sucesso dos Institutos Federais claramente são uma experiência inspiradora. Entretanto, o modelo do IEMA se diferencia dos IFs pelo fato de trabalhar a educação integral em tempo integral articulada a educação profissional e tecnológica. Não há cisão entre ensino médio e curso técnico, mas sim o ensino médio integrado com inovações curriculares. Esse é o padrão das Unidades Plenas do IEMA.

A construção desse modelo tem a parceria decisiva do Instituto de Co-responsabilidade pela Educação (ICE) e do Instituto Sonho Grande, à luz do trabalho bem-sucedido que estas instituições desenvolveram em Pernambuco, Ceará, São Paulo, dentre outros estados. Pela primeira vez, uma consultoria veio investir no Maranhão sem levar um centavo dos cofres do tesouro. Existe sim setor privado responsável, sério e comprometido com as causas públicas e justas.  

Temos acompanhado o trabalho de formação dos professores e gestores, bem como, o trabalho de acolhimentos dos alunos dessas primeiras três unidades. Observo o brilho nos olhos dos alunos, a vontade de viver algo novo por parte dos professores e gestores, e a atmosfera da crença de que é possível fazer escola pública de excelência.

O grande desafio da rede do IEMA é fazer com que a sociedade volte a acreditar na escola pública. Todos os que desejam contribuir são bem-vindos. Às empresas responsáveis pela construção das unidades, fornecimento de equipamentos e de energia elétrica conclamamos que estejam sensíveis a esse desafio e possam também contribuir com qualidade.

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