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CASTELO DE AREIA


Jhonatan Almada, historiador, integra o quadro técnico da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Mudar em política implica, ao mesmo tempo, em novas práticas e na ascensão de uma nova geração ao poder. Renovar a elite política maranhense na segunda década do século XXI tem sido tarefa difícil por estar entremeada em uma transição negociada entre os setores sobreviventes do antigo regime e as novas gerações que buscam afirmar-se em espaço próprio. Nesse aspecto, a velhice se apresenta lamentável e tola como a do senhor feudal Hidetora no filme Ran (lit. Caos, 1985), de Akira Kurosawa. Ali, o senhor que tudo conquistou com a força e desamor tentava transmitir aos seus filhos um ensinamento contrário às suas práticas e história, caindo na tolice e na loucura.

Os delírios do poder no Maranhão impedem que os velhos da política alcancem a sabedoria, esta chega com a experiência banhada do conhecimento de si e dos outros. O horror ao novo explica por que os representantes maranhenses no Senado fazem jus à palavra latina senex (homem velho), ligada à origem romana dessa instituição. Esses homens estão longe de ser “velhos moços” de que nos falava o Padre João Mohana, cuja biografia o jornalista Manoel dos Santos Neto está a nos dever.

O Maranhão se ressente de quadros novos na política e o eleitor necessita intervir, colocando ponto final naqueles que não sabem a hora de sair com honra, preferem agonizar pelo poder, enxergando Delgadinas na política ou mesmo trocando uma por outra. Delgadina é a personagem do romance “Memórias de minhas putas tristes” de Gabriel García Márquez, no qual um ancião encontra nela um bálsamo para sua avançada idade.

Estados como o Amapá e o Mato Grosso apostaram em jovens parlamentares para o Senado da República, tais como Randolfe Rodrigues e Pedro Taques, os dois tem se destacado de forma excepcional nos mandatos, a ponto de fazer sombra e tornar desconhecidos os titulares das outras duas vagas na representação de seus respectivos estados, com a exceção que se sabe. Países como a Itália e a França têm oportunizado espaços concretos à frente das chefias de governo aos seus jovens políticos.

A geração que esteve no poder durante a Ditadura Civil-Militar de 1964 e deve a ela suas carreiras, nunca se recuperou do despudor violento daqueles tempos e ainda se apresenta por debaixo de plásticas, tintura capilar e fotos devidamente tratadas no Photoshop como se fossem a verdadeira mudança. Essa fórmula premiou José Sarney com um Estado Novo para si que já tem, de duração, 29 anos no Brasil e 50 anos no Maranhão.

Recordo Jackson Lago, tão bem lembrado depois de morto, o qual soube combinar em seus governos, velhos e novos, com toda a contradição que isso gerou. No entanto, quantos secretários adjuntos e assessores seus estão hoje no cenário político contribuindo com a mudança no Maranhão? Bira do Pindaré, Márcio Jardim e Franklin Douglas são alguns nomes que me vem à lembrança. Lamentavelmente, essa prática levou Dr. Jackson a uma decisão de apoio que se revelou fatal nas eleições de 2010 para a Prefeitura de São Luís, o governo eleito lhe foi impiedoso e contribuiu sobremaneira para impedir que ele concluísse sua obra interrompida.

Renovação na política se faz com a sabedoria de dosar bem as gerações na transição, sempre recordando o quão passageiros somos neste mundo, mesmo que alguns se vejam como algo mais que um castelo de areia na beira do mar, ecoando a bela interpretação da cantora paraguaio-brasileira Perla.

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